De McLuhan a Scolari, o caminho conceitual da transmídia

Andrés Esteban Marín-Marín
Por Andrés Esteban Marín-Marín 21 lectura mínima

É possível que o caminho conceitual para chegar à narrativa transmídia tenha começado em 1968, com McLuhan e a ideia da ecologia dos meios, ao afirmar que «o meio é a mensagem».

Portanto, é o teórico canadense o primeiro a falar sobre a importância da forma do conteúdo no momento de transmitir conhecimento (Battro, 1997). Isso está enquadrado na descrição de sua representação da Aldeia Global, que corresponde às interconexões globais humanas existentes com o uso dos meios eletrônicos da época, como telefone, televisão e transmissões via satélite, como a divulgação de imagens ao vivo da chegada do homem à Lua.

«Na verdade, quando o conhecimento é irradiado de forma totalmente digital, o receptor pode escolher o meio, o suporte, que preferir para receber a mensagem (texto, voz, imagem). A metamorfose ocorre na chegada da mensagem ao computador» (Battro, 1997, p. 70).

Para Islas (2009), esta é a espinha dorsal da ecologia dos meios e do pensamento de McLuhan. Ele afirma que «com o passar dos anos, a Ecologia dos Meios tem se enriquecido graças às relevantes contribuições teóricas de destacados estudiosos de temas de Comunicação, Tecnologia e Semiótica, principalmente» (p. 26). Um desses expoentes é Postman, discípulo de McLuhan na escola de Toronto.

Segundo Postman, a mudança tecnológica não era aditiva, mas ecológica, e ele a explicava com um exemplo: se deixarmos cair uma gota de tinta vermelha em um recipiente com água, ela se dissolve em todo o líquido, colorindo cada uma das moléculas. Isso é o que Postman entende por mudança ecológica (ecological change) (Scolari, 2010, p. 20).

E é precisamente Postman quem introduz oficialmente o conceito de ecologia dos meios em uma conferência do National Council of Teachers of English em 1968, reconhecendo que McLuhan já o havia utilizado anteriormente (Scolari, 2010).

Postman definiu a ecologia dos meios e analisou como os meios de comunicação afetam a opinião humana, a compreensão, a sensação e o valor; e como nossa interação com os meios facilita ou impede nossas chances de sobrevivência. A palavra ecologia implica o estudo de ambientes: sua estrutura, conteúdo e impacto nas pessoas (Islas, 2009, p. 26).

Assim, Postman conceptualiza a ecologia dos meios como o estudo de ambientes, contextos e entornos. Um ambiente, como Islas (2009) afirma, corresponde a um complexo sistema de mensagens relacionadas à forma de pensar, sentir e agir do ser humano.

Diante disso, Scolari (2010) expressa que «a consolidação de uma visão ecológica dos meios e da comunicação foi paralela à difusão das ideias ecologistas a partir dos anos sessenta» (p. 18).

Mas foi em 1971 que ocorreu o primeiro passo acadêmico: Postman apostou no conceito e fundou na Universidade de Nova York o primeiro programa de Ecologia dos Meios.

«Postman formou, inspirou e colaborou com destacados pesquisadores como Paul Levinson, Joshua Meyrowitz, Jay Rosen, Lance Strate e Dennis Smith» (Scolari, 2010, p. 21).

O autor também afirma que a ecologia dos meios, além de sua origem semântica, não surgiu espontaneamente, mas faz parte dos processos que visam reunir diferentes componentes da esfera tecno-sócio-comunicacional.

Por sua vez, a ecologia dos meios para Islas se concentra nos estudos específicos do impacto das tecnologias nos ambientes comunicativos. Ele se apoia em McLuhan e em Postman para afirmar que «os meios de comunicação podem ser compreendidos como tecnologias, e as tecnologias efetivamente podem ser pensadas como extensões do homem» (2009, p. 26).

«A chegada de um novo meio não se limita a adicionar algo: muda tudo. Em 1500, após a invenção da imprensa, não havia uma Europa antiga mais uma imprensa: havia uma Europa diferente. Após a chegada da televisão, os Estados Unidos não eram os Estados Unidos mais a televisão. O novo meio deu uma nova cor a cada campanha política, lar, escola, igreja, indústria, etc., desse país» (Postman, 1998) (Scolari, 2010, p. 21).

Por sua vez, Martín-Barbero (1987), pertencente à chamada Escola Latino-Americana de Comunicação, contextualizou a importância das mediações a partir de um conjunto de elementos sociais. Ele concebe as mediações como um espaço cultural, como um lugar de articulação de sentidos.

Martín-Barbero (2014) comenta que a palavra mediações foi tirada de Paul Ricoeur, ao questionar o estruturalismo que faz desaparecer o símbolo.

O signo é um sinal, é um indicador, e o símbolo está carregado de tempo, memória e história. Ricoeur vê o mundo como um lugar emergente de sentido.

No entanto, Martín-Barbero não via as mediações como meios, ele pensava em «o que está entre o que está de um lado e do outro, o que está entre os meios e as pessoas» (Pensadores.co, 2014).

Mas relacionado à concepção de mediação social de Martín Serrano (1977), que propôs «uma teoria para explicar as funções que a comunicação institucionalizada desempenha na mudança e reprodução das sociedades capitalistas que transitam de sua fase industrial para outra pós-industrial» (Franco, 2011).

Essas ideias levaram Martín-Barbero a dar forma ao conceito a partir da sociedade de massas, da magnitude política e da psicologia dos sujeitos.

Isso o levou a enfrentar um dualismo entre o popular e o massivo, entendendo o popular como o tradicional e o que pertence ao povo. Portanto, o autor concebe as mediações como:

«A ferramenta para sair do dualismo epistemológico, pois servem como uma hermenêutica para explicar e compreender, ou seja, são metáforas que têm um valor referencial (estão relacionadas ao mundo da vida) e permitem ler, que não é encontrar a intenção por trás de um texto, mas desdobrar o mundo que o texto abre (…) As mediações são então ‘articulações entre práticas de comunicação e movimentos sociais – vistas como lugares onde o sentido dos usos é produzido -, diferentes temporalidades e pluralidade de matrizes culturais'» (Ortiz, 1998, p. 64).

Martín-Barbero exemplifica que a televisão funciona porque dentro das histórias transmitidas há algo da vida das pessoas, o que permite que os indivíduos se reconheçam, mas, ao mesmo tempo, as produtoras incluem com mais frequência elementos populares porque isso gera dinheiro, ele afirma que «se muitas pessoas ouvem, se muitas pessoas leem, se muitas pessoas veem, então ganha dinheiro. Então eu coloco porque dá dinheiro, mas tem que colocar, senão não há sucesso» (Martín-Barbero, 2014).

Nesse sentido, o conceito de mediação permitiu ao acadêmico espanhol vincular em sua construção teórica «como a primeira cultura massiva foi a cultura que criou o Estado-Nação, para que todos os colombianos se reconheçam como colombianos» (Pensadores.co, 2014). Portanto, o governo colombiano teve que transformar o popular em massivo.

Essa soma de elementos e sua estreita relação com o que foi expresso por McLuhan levou Piscitelli (2005) a se concentrar no desenvolvimento dos meios digitais e de seu ambiente. Ele comenta que a internet teria sido o meio favorito para McLuhan, já que suas teses «poderiam ser seriamente testadas, necessitavam do surgimento de um novo meio.

O melhor teste para adorar (ou desterrar) McLuhan seria, sem dúvida, a fronteira digital» (Piscitelli. 2005, p. 126).

E é precisamente na metade da década de 1990 que a internet se populariza, com a massificação da rede, acessibilidade, capacidade computacional e o uso de ferramentas multimídia, caracterizadas pela convergência de vários elementos como texto, imagem, sons, vídeos, gráficos e animações, entre outros elementos, de tal forma que permitem representar o conhecimento e a informação de maneira fluida. Isso coincide com os raciocínios de McLuhan (1968):

«… que um novo meio é caracterizado por agregar características dos meios anteriores, até que adquira sua própria linguagem (…) Isso significa que cada meio tem características únicas, embora às vezes essa originalidade resulte da soma, mais ou menos elaborada e complexa, de características de outros meios desenvolvidos anteriormente» (Canavilhas, 2007, p. 15).

Com a popularidade dos meios digitais, Negroponte (1995) afirma que o uso de ferramentas digitais se massifica de maneira acelerada, de modo que usamos dispositivos como extensões de nosso ser e, ao mesmo tempo, são nossa vestimenta, a ponto de dormirmos com eles.

Ele se refere a isso quando fala em revolução digital para expressar que o DNA em nossa vida cotidiana é a informação, a qual é composta por bits, elemento essencial na interação humana.

«A digitalização está produzindo uma mudança. A informação, na forma de livros, revistas, jornais e fitas de vídeo, está prestes a se tornar a transferência instantânea e de baixo custo de dados eletrônicos, que se movem à velocidade da luz. Dessa forma, a informação se torna universalmente acessível. Essa tendência faz com que a troca de átomos por bits seja irreversível e imparável» (Bencomo, 2007, p. 168).

Dessa forma, o usuário digital se relaciona com um mundo de interfaces baseadas em iconografias. Eles podem modificar seus parâmetros e controlar a navegação, desde os componentes essenciais da multimídia: a máquina como coordenadora, os links que conectam as fontes de informação, os controles de navegação que permitem a interatividade e o processo de processar, criar e comunicar.

Por sua vez, em relação a este último componente, ao compartilhar conteúdo, «falamos de multimídia quando a mesma história é contada em diferentes suportes, seja por yuxtaposição ou integração, permanecendo dentro dos limites do clássico site da web» (Liuzzi, 2014, p. 68).

No entanto, nessa evolução, surge um novo conceito: o crossmedia, que consiste em estender a história para outros formatos, mas para compreendê-lo é preciso experimentá-lo conjuntamente.

A integração da multimídia com o hipertexto levou os teóricos a falar de hipermedia, concebida como uma rede de interconexões que permite o acesso à informação por meio de nós, objetos e links. É importante mencionar Castells, que afirma que:

«Talvez o hipertexto não exista fora de nós, mas sim dentro de nós. É possível que tenhamos criado uma imagem excessivamente material do hipertexto eletrônico. Ou seja, uma imagem do hipertexto como um verdadeiro sistema interativo, digitalmente comunicado e eletronicamente controlado, dentro do qual todas as peças soltas da expressão cultural passada, presente e futura, em todas as suas manifestações, poderiam coexistir e recombinar-se. Esse hipertexto seria viável tecnologicamente na era da internet, mas não existe porque não há interesse suficiente para isso» (2001, p. 229).

Pode-se afirmar que a principal característica em um mundo hipermediado é a riqueza proporcionada pelas leituras não lineares, criando mapas de navegação hipermediais ou reticulares, que permitem uma navegação em forma de rede, de teia.

Na construção de conteúdos jornalísticos, a redação não linear é de grande utilidade, implicando resolver um conflito antigo entre o mundo analógico e o mundo digital.

Esta nova maneira de ler e se relacionar com os mundos analógicos e digitais possibilita a abertura de cenários para uma nova ecologia dos meios. O principal defensor dessa proposta é Scolari.

O autor faz inicialmente um percurso pelas mediações e abordagem desse fenômeno midiático, por meio da metáfora ecológica, uma abordagem para compreender o conjunto de inter-relações tecnológicas, culturais, sociais, políticas e econômicas no universo das tecnologias da comunicação e da informação.

A metáfora do ecossistema, assim como a metáfora da rede, pode levar a pensar que tudo é igual ou vale o mesmo. Nada mais distante de nosso ponto de vista: nas redes, assim como nos ecossistemas, existem hierarquias, conflitos e acordos entre atores que reconfiguram as relações a cada momento (Scolari, 2008, p. 292).

Scolari (2014) afirma que esse ecossistema adota terminologias das ciências sociais, como evolução, hibridação, extinção, simbiose e emergências, para se referir à exploração de novos territórios da comunicação.

«Suponhamos que haja um lago… e alguém vai lá e joga piranhas, bem, o fato de introduzir novas espécies muda todas as relações. Pode fazer com que uma espécie se extinga ou que outra talvez sobreviva ou se adapte». Este exemplo dado por Scolari permite distinguir que o ecossistema atual dos meios está passando por algo semelhante: o surgimento de novas espécies midiáticas, como redes sociais virtuais ou a criação de videogames que respondem aos movimentos do corpo.

Scolari (2014) também diz que são muitas as novas experiências comunicativas «que estão afetando as relações em todo o ecossistema e os meios tradicionais, antigas espécies que dominavam esse ecossistema, agora sentem a presença e às vezes estabelecem relações de conflito e às vezes relações de cooperação».

Hoje estamos vendo, por exemplo, uma série de televisão e ela também está acompanhada por um videogame e ambas se entrelaçam. Temos hibridações entre as redes sociais e a antiga televisão, na parte inferior aparecem os tweets ou as mensagens de texto. Ou seja, estamos vendo diferentes formatos híbridos (Scolari, 2014).

Gosciola (2016) diz que estamos passando do mundo hipermedial para o transmidiático, o que implica que a comunicação vai além da convergência.

Para ele, um desses exemplos está no campo do jornalismo, quando a notícia perde todo o valor porque é transmitida, com o mesmo conteúdo, em qualquer meio e em qualquer plataforma.

É ter o mesmo texto no rádio, na imprensa e na televisão. No entanto, o público não mais se contenta com a leitura no rádio dos jornais, exige que os conteúdos transmitidos sejam diferentes.

Ele diz que a transmedialidade pensa de maneira diversa, com uma linguagem própria para a plataforma, que documente e emocione os públicos.

É cada vez mais comum observar estratégias de comunicação pensadas a partir da transmedialidade. Narrativas de ficção, educação e jornalismo estão envolvidas nesse ambiente. De fato, «atualmente quase não existem atores da comunicação que não estejam pensando sua produção em termos transmidiáticos, desde a ficção até o documentário, passando pelo jornalismo, publicidade e comunicação política» (Scolari, 2014, p. 72).

Como indicado por Gosciola (2016), a transmedialidade é uma estratégia de comunicação que deve ser pensada e planejada a partir do cumprimento dos objetivos.

E é Scolari (2013) quem reúne os elementos da ecologia dos meios e os integra com as ideias de Jenkins, tratadas nas linhas anteriores, para argumentar de maneira sistemática a partir da ficção.

Embora ao falar de transmídia, Jenkins se refira principalmente aos universos narrativos gerados em torno de obras de ficção como Harry Potter, Matrix e Star Wars, não é difícil encontrar exemplos de narrativas transmidiáticas em gêneros de não ficção.

Se precisarmos resumir as narrativas transmídia em uma fórmula, seria a seguinte:

IM + CPU = NT

      • IM: Indústria de mídia
      • CPU: Cultura participativa dos usuários
      • NT: Narrativas transmídia

Um antropólogo da comunicação, inspirado por Michel de Certau, poderia propor outra fórmula baseada na oposição entre «estratégias» e «táticas»:

EI + TU = NT

      • EI: Estratégia da indústria
      • TU: Táticas dos usuários
      • NT: Narrativas transmídia

Um pesquisador de narrativas, por sua vez, poderia propor a seguinte alternativa a partir da tensão entre os textos oficiais (o chamado «cânone») e os produzidos pelos fãs («fandom»):

Cn + Fn = NT
Cn: Cânone
Fn: Fandom
NT: Narrativas transmídia. (Scolari 2014, p. 72)

Embora Jenkins (2009) estabeleça sete princípios das narrativas transmídia: expansão vs. profundidade, continuidade vs. multiplicidade, imersão vs. extração, construção de mundos (worldbuilding), serialidade, subjetividade e execução (performance), Scolari (2014) enfatiza duas condições essenciais: expansão e adaptação. Por um lado, a história se expande por meio de vários meios (novas histórias) e, por outro, há uma adaptação coerente em cada meio ou plataforma (linguagens próprias e formatos adequados). Ambas as características envolvem o público, que não são mais apenas consumidores, mas «prosumidores», ou seja, participam na expansão da história.

«Cada um representa um momento de interação do público com os textos disponíveis nas múltiplas plataformas utilizadas para sua distribuição» (Gallego, 2011, p. 16).

Além disso, Gallego conclui que em «narrativas transmídia é necessário o design de plataformas que contem com mecanismos narrativos que as conectem. Criar expectativa ou gerar no público a inquietação de aprofundar na história requer a implementação de pistas de migração em seu interior» (p. 22).

Para falar de transmídia, é fundamental referir-se à construção de narrativas em várias plataformas, onde cada conteúdo contribui de maneira específica para uma totalidade valiosa (Jenkins, 2008). Ou seja, cada roteiro é elaborado para cada uma das linguagens próprias do meio, que juntas complementam as histórias por meio de um fio condutor.

«As narrativas transmídia são histórias que se desdobram por várias plataformas midiáticas, e cada meio contribui de maneira característica para nossa compreensão do mundo, uma abordagem mais abrangente para o desenvolvimento da franquia do que os modelos baseados em textos originais e produtos secundários» (Jenkins, 2008, p. 183).

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Periodista, especialista en Gerencia de la Comunicación con Sistemas de Información, magíster en Comunicación, maestrando en Ciencia, Tecnología y Sociedad de la Universidad Nacional de Quilmes (Argentina), exárbitro de fútbol, Líder Catalizador de la Innovación y profe universitario.
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