Não apenas as organizações públicas e políticas em sua necessidade de gerir sua formação interna e externa, nem mesmo a atividade jornalística no dia a dia, é permeada pela presença das narrativas transmídia. Também no campo da educação, é afetado pelos diferentes públicos que compõem a comunidade educacional.
É crucial mencionar alguns estudos no âmbito da educação, pois tornam-se componentes públicos que buscam propor a utilização da transmídia como elemento de apoio à alfabetização.
Arrieta (2012), em seu texto «Transmídia: uma proposta para a produção de conteúdos educativos», apresenta uma reflexão sobre as práticas que articulam as tecnologias da informação e comunicação (TIC) e a lógica que se manifesta no ambiente digital.
A autora explora a modernidade, a pós-modernidade e a transmodernidade para demonstrar a configuração de situações sociais, como as novas maneiras na produção de conteúdos e a convergência de mídias. Isso permite afirmar que «no ambiente educativo, é necessário abordar a ação transmídia de uma perspectiva diferente da publicidade e do entretenimento» (p. 213).
O caminho a ser construído nessa dinâmica deve orientar a transferência para o campo educacional dos modelos de produção de conteúdo e articulação de mídia do fazer transmídia. A produção transmídia deve se irradiar para todas as tipologias textuais, além das narrativas (já testadas em outros campos). Para as dinâmicas educacionais, abre-se um amplo horizonte de inovação na exploração da produção de textos argumentativos, expositivos e instrucionais (Arrieta, 2012, p. 213).
Uma das práticas acadêmicas que utiliza a transmídia como ferramenta pedagógica e que está vinculada ao setor público é documentada por Montoya (2013) em um artigo publicado na revista «Universidad EAFIT» na Colômbia, com o tema do jornalismo científico.
É uma entrevista com o professor Diego Fernando Montoya, que desenvolve pesquisas a partir das narrativas transmídia em um grupo de pesquisa em criação hipermediática no Departamento de Humanidades e no laboratório de MediaLab da EAFIT.
O laboratório de MediaLab liderou o projeto «Plan Digital TESO», um convênio interinstitucional com o município de Itagüí, localizado no norte da Área Metropolitana do Vale do Aburrá, que buscava a apropriação tecnológica dos jovens nas instituições educacionais do município.
O projeto, que envolveu «alunos de diferentes disciplinas de Comunicação Social da EAFIT, Design Industrial da Universidad Pontificia Bolivariana e do ensino médio das instituições educacionais de Itagüí» (Montoya, 2013, p. 23), tornou-se um piloto que permitiu a construção de um modelo transmídia aplicado à educação.
Nessa experiência, os estudantes do ensino médio, com o apoio dos universitários, tiveram que criar novas histórias a partir da «Odisseia» de Homero, que foram produzidas e divulgadas em plataformas próprias para cada um dos conteúdos.
No YouTube, foram compartilhados curtas documentais e trovas criadas a partir dessa obra literária.
Essa experimentação está relacionada com a conclusão feita por Ossorio (2014) em sua pesquisa «Aplicação da narrativa transmídia no ensino universitário na Espanha: aprendizado colaborativo, multiplataforma e multiformato»:
«O fato de que a narrativa transmídia seja, em resumo, uma forma de contar histórias ou emitir mensagens permite que seja aplicável ao mundo educativo, pois este envolve a transmissão de mensagens cujo conteúdo são conhecimentos das diferentes áreas do saber. Portanto, as estratégias transmídia contribuiriam, assim como fazem nos ambientes de ficção, com informações ou publicidade, proporcionando possibilidades de enriquecimento dos mensagens originais, ao mesmo tempo em que potencializaria a participação dos alunos e incentivaria a necessidade de reforçar sua auto-suficiência e capacidade crítica, ao exigir que selecionem e escolham o caminho a seguir, discriminem informações, ampliem o oferecido e, em última instância, tornem-se protagonistas de seu próprio processo de aprendizagem» (Ossorio, 2014, p. 15).
No caso espanhol, uma análise desenvolvida entre 2012 e 2013 por Grandío-Pérez (2016) menciona que o cenário educacional nesse país, «onde a alfabetização transmídia é escassa e centrada principalmente em aspectos instrumentalistas e tecnológicos (…) observam-se deficiências na capacitação dos alunos para estabelecer relações entre diferentes textos e códigos próprios da transmídia» (p. 98).
Além disso, sugere «incluir a transmídia de forma transversal nas diferentes disciplinas diretamente e indiretamente relacionadas à educação midiática, tanto nos cursos de Educação quanto em Comunicação (Publicidade, Jornalismo ou Comunicação Audiovisual)» (p. 99).