Este documento oferece uma abordagem à semiolinguística com base na contribuição de Patrick Charaudeau, ao descrever e analisar o circuito estabelecido em sua proposta da Teoria da Enunciação.
O primeiro passo consiste em compreender, conforme destacado por Escamilla (2001) ao retomar os postulados de Charaudeau, que «a semiolinguística é uma psicossociologia da linguagem, na medida em que busca dar conta dos fenômenos da linguagem como resultado da encenação de um sujeito que é, ao mesmo tempo, um ser psicológico e um ser social».
No momento de realizar qualquer análise, é crucial ter clareza sobre o conceito de enunciação. Esse conceito refere-se à representação do discurso por meio dos enunciados, estabelecendo uma relação entre o enunciador (quem produz o enunciado), o enunciado (a representação linguística) e o enunciatário (quem assimila o enunciado).
A análise enunciativa, conforme Charaudeau (1986), «centra-se exclusivamente no conteúdo temático dos atos de linguagem, extraindo o essencial».
Portanto, as teorias de Charaudeau são abordadas considerando os contextos sociais e as diferentes situações comunicativas e discursivas dos atores. Isso resulta na formação de «um duplo circuito de fala, estabelecendo assim uma configuração discursiva na qual se destacam dois componentes: um comunicacional e outro discursivo» (Pérez e Quintero, 2010).
Esse circuito possibilita a compreensão e identificação das dinâmicas discursivas dos participantes em assuntos públicos e políticos na América Latina, incluindo as posturas dos meios de comunicação.
É importante ressaltar que as estratégias discursivas representam formas de linguagem utilizadas para indicar intenções ou interesses, dependendo da situação apresentada. Charaudeau (1986) é reconhecido como um grande analista da publicidade, da imprensa e de outros meios comunicativos, focando suas pesquisas em abordagens enunciativas e discursivas.
O circuito delineado por Charaudeau (1986) constitui uma configuração discursiva abrangente, envolvendo diversos atores na produção comunicativa. De acordo com Pérez e Quintero (2010), «não estamos mais diante de um locutor e interlocutor, mas de indivíduos biopsicossociais que, além de estarem fisicamente na comunicação, também são sujeitos que constroem seus discursos com base em suas razões psicológicas e contextos sociais».
As Teorias da Enunciação referem-se ao processo no qual um participante (ator) converte língua em discurso, sendo ações complexas. As peças discursivas devem contemplar três campos de problematização das ciências sociais, conforme Charaudeau (1986): prática de regulamentação, relações de força e processos de significação:
- No primeiro campo, busca-se reconhecer normas e princípios criados socialmente.
- No segundo campo, observa-se a relação de poder, a luta de interesses e as relações de aliança.
- No terceiro campo, encontram-se os imaginários e as representações sociais, destacando que a realidade é construída discursivamente.
Assim, ao tentar compreender as complexas dinâmicas na América Latina, Charaudeau (1986) destaca que «o direito à palavra não é concedido de antemão, não é um fato natural: esse direito é concedido pela situação em que se fala». Os cidadãos, portanto, possuem conhecimentos prévios que os capacitam a agir de maneira competente diante do exposto pelos candidatos, sendo isso entendido como a noção de Contrato Comunicativo.
Além disso, «todo sujeito falante deve ter credibilidade, e ele mesmo, consciente dessa necessidade, deve agir de maneira a se tornar crível» (Charaudeau, 1986). Contudo, o destinatário do ato da linguagem não está obrigado a aceitar o intento deste, sendo necessário que o sujeito falante organize seu discurso de maneira a persuadir ou seduzir seu interlocutor.
Referências
- Charaudeau, P. (1986). Semiolingüística y comunicación. Recuperado em 5 de junio de 2014, de Le site de Patrick Charaudeau: http://www.patrick-charaudeau.com/Semiolinguistica-y-Comunicacion.html
- Pérez, J., & Quintero, E. (2010). Hacia el análisis semiolingüístico del discurso periodístico: Estudio comparativo de los periódicos pereiranos el diario del Otún y La Tarde. 147.
- Escamilla, J. (2001). Fundamentos semiolingüísticos de la actividad discursiva, Cap. 3, 4, 5. Ed. Fondo de Publicaciones de la Universidad del Atlántico. Barranquilla, Colombia. Pág. 27-67.