É significativo começar com a origem da narrativa transmídia. A referência ao seu surgimento remonta principalmente a Henry Jenkins em 2003, que discutiu o conceito.
No entanto, em 1975, o compositor e percussionista norte-americano Stuart Saunders Smith propôs a «transmedia composition», uma peça musical de sua autoria.
Em segundo lugar, Marsha Kinder, na década de 1990, falou sobre a intertextualidade transmídia e o «supersistema transmídia», referindo-se às diferentes produções de conteúdo audiovisual, audiências e subculturas para produtos de ficção, conforme detalhado por Montoya, Vásquez e Arboleda (2013).
As rápidas mudanças na comunicação na época (1991) levaram Kinder a questionar seu ambiente cotidiano, por meio da observação detalhada de narrativas criadas para o entretenimento infantil. Essa investigação, documentada no livro «Jugando con el poder en las películas, la televisión y los videojuegos» (título original em inglês: «Playing with power in movies, television, and video games»), permitiu estabelecer «as relações intertextuais entre os conteúdos desenvolvidos para a televisão e os videogames, filmes, produtos de marketing e plataformas multimídia e interativas» (Montoya, Vásquez e Arboleda, 2013, p. 142).
Como observam Montoya, Vásquez e Arboleda (2013), o objeto de análise de Kinder (1991) foi a série de desenhos animados «As Tartarugas Ninja», observando as narrativas existentes e a interação que seu filho conseguia com o produto (como entretenimento), através de combinações de estruturas que permitiam a criação de novos gêneros e histórias para os personagens.
Seu filho não apenas assistia à série de TV, mas também jogava o videogame, ia ao cinema para ver o filme, ouvia a trilha sonora e as músicas dos personagens em formato de CD, e brincava com as figuras dos personagens que vinham nas caixas de cereais.
Isso é o que ela chamou de «supersistema comercial de intertextualidade transmídia» (Kinder, 1991, p. 42).
Entendendo a transmídia como a facilidade com que se passa de uma narrativa para outra por diversos meios, como cinema, televisão e videogames, entre outros, o que «facilita não apenas a compreensão e a lembrança das histórias, mas também o desenvolvimento de esquemas complexos de histórias que se diferenciam nos conflitos, personagens e modos de produção da imagem» (p. 59).
No entanto, o uso cotidiano da multimídia acelerou os desenvolvimentos tecnológicos, a capacidade computacional, o armazenamento digital, a acessibilidade, a velocidade da rede e, ao mesmo tempo, as necessidades dos usuários para interagir com os sistemas de informação como mediador (interatividade) e se relacionar com outras pessoas (interação), por meio de plataformas que permitem a transmissão e troca de dados e formatos.
Com todo esse avanço tecnológico, chegou a web 2.0, termo usado para indicar a evolução nos processos da internet em relação à participação dos usuários e seu papel no mundo virtual. Isso leva a um novo conceito relacionado à multimídia, o da convergência.
E é precisamente através da convergência que o pesquisador Henry Jenkins cunhou, em 2003, o conceito de narrativa transmídia, após um artigo publicado na Technology Review.
A narrativa transmídia refere-se a uma nova estética que surgiu em resposta à convergência dos meios, que apresenta novas demandas aos consumidores e depende da participação ativa das comunidades de conhecimento. A narrativa transmídia é a arte de criar mundos (Jenkins, 2008, p. 31).
Embora para Jenkins (2008) o conceito de «narrativas transmídia tenha entrado no debate público em 1999, (…) enquanto 105 críticos tentavam entender o espetacular sucesso de The Blair Witch Project (1999), um filme independente de baixo orçamento que se tornou uma mina de ouro» (p. 107).
Nessa discussão, Laurel (2000) publica «A criação de conteúdo na pós-convergência mundial» (título original: «Creating Core Content in a Post-Convergence World»), onde propõe a ideia do «think transmídia» (pensar em transmídia) a partir da convergência tecnológica.
Com a revolução digital, um dos dilemas constantes é que os velhos meios desapareçam e apenas os digitais permaneçam. No entanto, Jenkins afirma que «o emergente paradigma da convergência assume que os velhos e novos meios interagirão de formas cada vez mais complexas» (Jenkins, 2008, p. 17).
Apesar de a transmídia ser um campo da comunicação que ganhou força na última década, com características experimentais, inovadoras e inovadoras nas narrativas, não é nova de acordo com a definição de Jenkins.
Sua aplicação, embora não se saiba ao certo, talvez provenha das antigas civilizações onde eram promovidos espetáculos públicos para contar histórias, por exemplo:
A história de Jesus, conforme contada na Idade Média. A menos que alguém soubesse ler e escrever, Jesus não estava vinculado a um livro, mas você o encontrava em múltiplos níveis da cultura. Cada representação (um vitral, um tapete, um salmo, uma pregação, uma encenação) pressupunha que alguém já conhecia o personagem e sua história por algum outro lugar (Jenkins, 2008, p. 124).